Preços mais altos do cobre são agora considerados o padrão, com possíveis repercussões nos veículos elétricos, adverte um especialista.

Segundo Investing.com, houve uma subida nos preços dos futuros de cobre no início de maio, mas agora os mercados estão observando uma correção moderada. Especialistas acreditam que os preços elevados do cobre permanecerão constantes a longo prazo, mesmo que possam ocorrer flutuações temporárias devido à demanda crescente e problemas de fornecimento. Rodrigo Scolaro, economista da Gep Costdrivers, expressou essa perspectiva em uma entrevista para Investing.com Brasil.

Neste cenário, a indústria de veículos elétricos enfrenta obstáculos importantes devido ao aumento dos custos de metais essenciais, como o cobre, conforme apontado por um especialista. Os valores do níquel e do lítio também podem subir, o que terá um impacto adicional nos custos do setor.

Diversos elementos têm colaborado com a recente valorização do cobre, como paralisações na produção em países como Chile, Peru, Panamá e Zâmbia, ocasionando um aumento nos preços. A perspectiva é de que esses patamares elevados possam ser mantidos devido a questões políticas em jogo, em especial pela expectativa de que a demanda chinesa continue superando a oferta nos próximos anos.

Veja os motivos na entrevista integral.

Cobre, essencial para a indústria de veículos elétricos, está próximo de níveis de preço elevados. Quais são os motivos por trás desse aumento de valor?

Rodrigo Scolaro menciona que ao analisar o mercado do cobre, é importante considerar tanto a extração do minério como a produção do cobre refinado, que é o produto final negociado internacionalmente.

Nos últimos anos, observamos desafios na indústria de mineração, com foco na mineração de cobre, que é liderada pelos principais produtores latino-americanos, como Chile e Peru, além de outros países. Instabilidade política e questões ambientais nesses países resultaram em impactos negativos na produção de minério, afetando o fornecimento global.

Recentemente, houve o encerramento de uma mina de cobre significativa no Panamá, que era a maior do país, impactando diretamente a oferta global de minério de cobre, como a gota d’água.

Por outro lado, surge a questão da necessidade de refinamento. A China é a principal responsável por esse processo e, devido à escassez de minério no mercado, o custo do minério estava aumentando, o que impactava negativamente nos lucros dos refinadores chineses. Eles estavam obtendo cada vez menos retorno financeiro por cada processo de refinamento realizado.

As empresas chinesas estão debatendo intensamente a possibilidade de diminuir o processo de refinamento, podendo haver um controle mais rigoroso. Alguns indicadores sugerem que essa redução já está em andamento na China.

Devido ao fechamento da mina do Panamá e às discussões na China sobre a questão da refinação, surgiu incerteza no mercado em relação à disponibilidade de cobre para atender à demanda. Isso está relacionado à transição para veículos elétricos e à previsão de um aumento significativo na demanda por cobre em um futuro próximo.

Dessa forma, com esse receio, os preços começaram a aumentar. Assim, há alguns dados concretos, embora também haja um forte componente especulativo nesse movimento. Ao discutirmos a refinaria da demanda, observamos indicadores positivos da economia da China, que é um importante consumidor de cobre refinado. No entanto, atualmente, a principal fonte de demanda por cobre refinado não são os carros elétricos. A expectativa é que esse mercado cresça e possa se tornar uma das principais fontes de demanda no futuro. Contudo, atualmente, a indústria da construção chinesa é a principal fonte de demanda e está enfrentando desafios significativos, com quedas no setor imobiliário.

O aumento do preço do cobre ainda é considerado em grande parte especulativo, sendo mais uma projeção de aumento na demanda do que um aumento efetivo na demanda já observada. Em maio, atingiu níveis históricos elevados.

Você acredita que essa valorização vai persistir? Quais elementos podem manter ou diminuir essa tendência?

Scolaro – Após atingir um patamar elevado em maio, houve uma diminuição nos preços diários do cobre, uma espécie de ajuste nos preços.

Em um momento de alta histórica, pode ser desafiador manter-se devido à natureza especulativa da situação, mas a diminuição no valor não é tão acentuada.

É altamente provável que o preço do cobre continue a diminuir a curto prazo ou que se estabilize em breve, mas é improvável que retorne aos níveis baixos vistos no início de 2024 e 2023. Existem diferentes cenários possíveis, especialmente devido à incerteza na China. Embora não haja indicações disso, uma crise imobiliária significativa na China poderia resultar em uma queda nos preços do cobre devido à redução drástica na demanda, uma vez que a China é a principal consumidora desse metal.

Dessa forma, existem diversas possibilidades, porém parece provável que ocorra uma escassez de fornecimento, ou ao menos um atraso na regularização da oferta, resultando em uma manutenção da demanda atual ou até mesmo em um aumento.

Para os preços, levando em conta o médio e longo prazo, é altamente provável que esses valores históricos em níveis de preços se tornem a nova referência padrão.

Como você analisa a situação atual da procura por materiais no setor de veículos elétricos e o possível impacto de aumentos substanciais nos preços do cobre?

Scolaro enfatiza a relação direta entre o setor da construção e o mercado de veículos elétricos em termos da demanda por cobre. Enquanto a construção é atualmente o principal comprador desse metal, o mercado de veículos elétricos está crescendo rapidamente e demanda quantidades significativamente maiores de cobre. Apesar dos esforços para reduzir a quantidade de cobre necessária, a tecnologia avançou ao longo dos anos, resultando em uma redução do uso desse metal em veículos elétricos comparado com veículos de combustão interna do passado. A indústria continua a buscar maneiras de minimizar o uso de cobre, porém é um componente essencial para o setor devido à sua importância tecnológica.

Com a mudança em curso, a demanda pelo cobre continuará a aumentar no setor mencionado, impactando diretamente a situação que está se desenvolvendo. Existem diversas incertezas, principalmente de natureza política. No segmento de veículos elétricos, o setor está se desenvolvendo sozinho, mas muitos países precisam de incentivos governamentais para crescer de forma consistente. Portanto, é desafiador prever o quanto a demanda aumentará e a velocidade com que essa transição ocorrerá em diversos países.

Além disso, diversos outros elementos também estão em jogo, como governos internacionais que enxergam metais como o cobre, o lítio e outros associados aos veículos elétricos como uma oportunidade para obter mais recursos financeiros. Por exemplo, no México, ocorreu recentemente a nacionalização de minas de lítio, que agora estão sob propriedade do governo federal. Já no Chile, uma mudança na legislação de mineração aumentou as taxas estaduais sobre a produção de cobre, o que também pode influenciar os preços e levar a aumentos.

A previsão feita pelos representantes do setor de mineração do Chile é que o aumento das taxas será repassado de alguma maneira. Esses são elementos que provavelmente terão impacto no mercado de veículos elétricos. Espera-se que avanços tecnológicos resultem em veículos mais acessíveis, porém as questões políticas podem complicar a situação para os consumidores.

A previsão é que isso possa influenciar os custos, dependendo do avanço na abertura de novas minas e nas taxas de refinamento. A longo prazo, isso poderia resultar em uma equilibração das taxas de lucro para as empresas fabricantes de veículos elétricos, ou talvez esses custos acabem sendo repassados aos consumidores.

Novas oportunidades podem surgir em quais mercados devido à diminuição dos custos de veículos elétricos na China e ao aumento das tarifas dos EUA sobre veículos chineses? O Brasil é um dos possíveis mercados em destaque?

Scolaro menciona que os carros elétricos são bastante influenciados por questões políticas, assim como outros setores. Ele destaca o significativo crescimento da energia renovável, como a solar e eólica, no Brasil nos últimos anos, impulsionado por incentivos do governo federal.

Houve um grande aumento nos impostos de importação sobre veículos elétricos nos Estados Unidos, especialmente em meio à corrida eleitoral entre Biden e Trump. Ambos os candidatos têm políticas protecionistas em relação à indústria, mas em diferentes graus. Trump, por sua ligação mais próxima com o setor petrolífero, pode impactar negativamente as medidas de incentivo para a transição para veículos elétricos nos Estados Unidos, o que poderia retardar esse processo. Especialistas apontam que o setor de veículos elétricos nos EUA já está se desenvolvendo, mesmo sem incentivos, mas a falta de apoio poderia dificultar a transição.

No Brasil, enfrentamos desafios devido às discussões no Congresso sobre incentivos para energia elétrica, incluindo veículos elétricos e hidrogênio verde. O processo para avançar nesse sentido é lento e incerto devido a diferentes interesses em jogo, como o setor do etanol. A tendência é que a presença de veículos elétricos cresça, mas a incerteza persiste devido aos diversos interesses envolvidos, tornando difícil prever o rumo do mercado e sua velocidade de evolução.

Negativo.

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